sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Necessidade...

Sento-me sobre a longa mesa,

Atordoado, sem qualquer defesa.

Olho as folhas rabiscadas,

Mergulho nelas em busca de fadas.

Minutos depois regresso do sonho,

Que raio de léxico, escritor enfadonho.

A garrafa de Whisky... Está quase vazia...

Julgando-me sóbrio, pensava que escrevia.

Sinto-me estrangulado,

Tanta socialização.

Quero-me abandonado,

Perdido sem razão.

Preciso de estar isolado,

É a minha afirmação,

Sozinho e deixado

à minha perfeita solidão...

Levanto-me agora

Com a garrafa no limite,

Será esta a hora?

Sobre a longa mesa jazem os versos de poesias incrédulas, palavras perdidas do tempo sentidas... na alma. Pairam sobre a madeira estrofes da alquimia da dor, essa ciência sem cor. Como era bom se eu a conseguisse ouvir... Pois sei que sou incapaz de a sentir... Como seria formidável essa descoberta... Existência admirável. Resta-me assim lamentar, o que não consigo chorar... Vou deste modo prosseguir com o que me quer sair, jactos de ideias, quase gonorreias... mas que se lembram de um eu que já não sei ser... talvez esse rapaz que nunca fui.

Afonso Sade

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